"Escrevi sobre... sapatos!"
[Palavras escritas que agora ganham novo significado, força e vida. Datado de 13 de Setembro de 2008, às 1:30]Já alguma vez usaste um sapato tanto tempo e a andar tanto por terrenos tão acidentados que ele começou a pesar muito e a magoar os pés e depois chegas a altura que podes tirar o sapato mas nem o queres tirar porque, embora saibas que vais ter um grande alivio, sabes que vais fazer grande esforço ao tira-lo e vai ser até um processo doloroso?
E depois de descalçar o sapato?!
Pobre pé! Parece que até estar exposto à simples brisa o trás dor de tão maltratado que estava. Agora ele (o pé) merece um descanso, um carinho, um tempo para dedicar a ele.
Mas o sapato foi bastante útil! Foi ele que nos protegeu na caminhada e que, querendo ou não, nos ajudou a chegar até aqui. Com muita dor, sim! Mas sem ele não teríamos conseguido fazer a caminhada porque iríamos desistir logo de início nas primeiras pedras porque nossos pés não iriam aguentar.
Estou numa situação semelhante.
Explico:
Andei muito tempo com protecções que me pesam, me apertam, me magoam e agora sinto que estou seguro para tirá-las mas elas estão tão apertadas, tão bem presas que parecem não querer sair e doem tanto se tentar tira-las…
Elas protegeram mas também me marcaram.
Foram essas protecções que me ajudaram a atravessar tudo aquilo que passei e que me ajudaram a chegar agora neste ponto onde eu vejo que já não preciso delas. Protecções rústicas que fiz na minha caminhada a medida que via necessidade de me proteger. Protecções do meu coração, do meu “eu”.
Não tenho nenhum rancor contra elas. Não as vejo com mágoas.
Pelo contrário, reconheço nelas o seu valor de me manter vivo. Elas que me ajudaram a sobreviver nos momentos difíceis e elas que me fizeram chegar mais longe.
Ao vê-las lembro-me das situações que elas me livraram, dos golpes que ampararam, do tempo que me camuflaram ou como me ajudaram a atravessar temperaturas adversas, daqueles espinhos que elas resistiram com toda a sua força ao tentar me proteger deles… Cada furo, cada corte, cada queimadura que elas têm conta uma história que não me é agradável e essas marcas delas estão todas duplicadas em mim porque muitos daqueles golpes passaram… Mas eu sobrevivi!
Mas é tempo de descansar.
Já não há necessidade de carregar esse peso. Todo esse equipamento de guerra pode ser colocado de parte. Estou em paz! Alcancei o destino.
Parece que já nem estou habituado a ser assim livre! Sinto-me leve mas também um bocado exposto. Que esquisito!
Mas por incrível que pareça, descanso. Reclino-me e deixo-me estar quieto. Já não estou sobressaltado, sempre alerta, com meu instinto de sobrevivência pronto para o combate. (Isso também me deixava muito esgotado)
Em vez disso vejo detalhes que sempre me passaram despercebidos. Admiro pequenas coisas que são tão belas, suaves, agradáveis que eu, com aquilo tudo em cima, nem dava conta.
Assim estou feliz… e, depois de tanta luta, acho que mereço este descanso!