“No we're never gonna survive unless... We are a little... Crazy...”
[Um extracto da música “Crazy” do Seal]
Na vida, existe uma pressão cada vez maior no indivíduo com cobranças, prazos, leis e normas que lhe trazem preocupação, ansiedade, expectativa, coação, cargas... Muitas vezes fantasiamos um escape da realidade como se fôssemos imunes a todas essas imposições e condições adversas.
Porque a realidade é dificil de enfrentar.
Popularmente se diz “muito riso pouco siso” (siso = juízo, bom senso).
No poema “Ela canta, pobre ceifeira”, Fernando Pessoa inveja a ceifeira dizendo:
“Ah, poder ser tu, sendo eu !
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso !”
Porque “A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve !“
Acho que, em geral, todos partilhamos um bocado esse ponto de vista.
A felicidade duradoura parece se alcançar sempre que uma pessoa consegue ter um certo distânciamento das situações de maneira a não se “esquentar” desperdiçando suas energias e desgastando-se com o quotidiano. Talvez siga um bocado aquela linha de pensamento que diz “se não tiver expectativas qualquer coisa que ganhar é lucro” ou “se aposto pouco irei perder pouco”. Aqui parece haver uma passividade e/ou uma alienação grande que não sei até que ponto pode ser recompensada.
O racional esgota a pessoa e muitas vezes funciona como aquela âncora que prende e limita a felicidade porque avaliamos tudo minuciosamente e de maneira exaustiva. Muitas vezes para ser feliz é necessário esquecer do resto.
Aqui entra a loucura.
A loucura eu acho que pode ser um disturbio mental ou simplesmente algo desencadeado por um desgaste emocional (ou algo do genero) que uma pessoa pode sofrer que vem comprometer a sua sanidade mental. Pois eu não me refiro a esses tipos de loucura, mas sim, como o sonho da liberdade da razão.
Na infância, somos felizes porque não temos muitas preocupações. Somos protegidos pelo os adultos que levam as “cargas” ou porque naturalmente não vemos e não processamos toda a extensão da realidade. A medida que vamos ficando conscientes ficamos cientes da realidade e assim aumenta a responsabilidade e toda a pressão que essa lucidez acarreta.
Para rir é preciso não avaliar tanto às consequências e, as vezes, imaginar a situação num contexto que nem sempre corresponde ao real.
Como Pessoa diz, a inconsciência não deixa a pessoa ficar oprimida com os pesos da vida.
Talvez seja preciso relativar o valor que damos à vida. Aumentar o valor das coisas boas e desvalorizar os fracassos e pontos negativos (ou seja, sermos positivos). No balanço dos prós e contras, não será necessário ter sucesso para “ganhar”. Num exemplo simples: se estivermos a brincar com uma criança iremos deixa-la ganhar para termos, na satisfação dela, a nossa.
Havia, no Brasil, uma campanha política cujo lema era “sem medo de ser feliz”. Talvez seja, um bocado, essa a resposta: ter pouco siso. Porque “quem não arrisca não petisca”, logo, é necessário estar disposto a correr riscos. Como aquela história dos paraquedistas que fecham os olhos antes de pular do penhasco (pois se tivessem a ver aquilo que estavam prestes a fazer iriam ter medo e desistir).
[p.s.: Queria agradecer a todos amigos leitores que têm frequêntado este blog e por todo o feedback que tenho recebido. Mas queria apelar mais aos comentários porque eu recebo criticas tão bem estruturadas e construtivas que é uma pena não as exporem para tema de discussão aqui no blog. Estejam a vontade afinal vocês já me conhecem.]