Follow the yellow brick road!
No filme “O Mágico de Oz” (“
The Wizard of Oz”- 1939), apresenta a história de uma mocinha que “acordou” num mundo imaginário e, nesse mundo, todos buscam a solução dos seus problemas no Mágico da cidade/fortaleza chamada Oz.
Esse clássico transformou-se num sucesso pela aceitação do público e pelos seus efeitos revolucionários. Um desses efeitos magníficos foi a ilusão criada nos cenários de forma a aparentarem serem infinitos recorrendo simplesmente a iluminação posicionada estrategicamente e a paredes impressionantemente bem pintadas com a paisagem que reproduzia com exatidão a continuidade do cenário. Na prática, os atores tinham 2 metros de caminho que, se continuassem a andar pela estrada do caminho, davam de cara com a parede.
[Aviso para fã(s): este post contém spoilers do Mágico de Oz]No musical, a personagem (que eu não me lembro do nome dela) começa a história acordando depois da sua casa ter literalmente esmagado uma fada, ao cair num mundo imaginário. Porque a fada esborrachada ficou com os pés intactos, deu para ver os sapatos vermelhos e mágicos que tinha e a mocinha da história não resiste a tentação e decide ficar com os sapatos dela (esta é a parte funesta da história).
Como quer voltar para o seu mundo, o povo, que acaba de presenciar o brutal homicidio involuntário (e bastante perturbador para o começo de um musical) seguido de furto a um cadáver, incentiva-a a abandonar a cena do crime e procurar o grande Mágico de Oz para apresentar seus problemas. Então esta deliquëntezinha (mais uma juventude conturbada) começa a sua jornada sozinha com o seu cachorrinho e no caminho, aparecem mais uns problemáticos pidões que se juntam a ela. Encontra: um espantalho, no meio de um campo de cereais “taking crap” dos corvos; um homem de lata emperrado, com o machado na mão, ao cortar lenha; e um leão que pula para cima deles miando depois de ter encaxeado a sua juba.
(Apesar do lado obscuro e criminoso da personagem ela é considerada mocinha… Quem somos nós para julgar, não é?!)
Para encontrar o querido Ozzy (Ozzy é só para os amigos), eles vão dançando de mãos dadas, saltitando e cantarolando o que têm que fazer: seguir o caminho de tijolos amarelos (ver título).
Até chegarem lá vão enfrentando uma bruxa má (acho que é um pleonasmo) que vive num castelo sujo porque ela só usa a vassoura para andar por aí, cozinha terrivelmente mal e tem uma bola de cristal para ver a vida dos outros.
A bruxa vive no meio de um exercito de macacos voadores (acho que houve até uns documentários com uma bióloga que era fã dela), é verde (é tipo a tia feia do Hulk) e se veste de preto (para distingui-la da pseudo-mocinha) e tem uma grande inveja da mocinha porque ela conseguiu uns sapatos mais bonitos que os da bruxa (coisas para além do entendimento masculino… mas também o facto da mocinha estar fazendo amigos enquanto a bruxa só tem um bando de macacos voadores também não deve ajudar muito a relação).
(Segundo o comentarista Lewis Black, os macacos voadores são da Coreia do Norte porque esse povo é que é maléfico o suficiente para ter tais criaturas).
Depois de todos os contratempos (maioria causados pela bruxa… nunca subestime uma maluca!), finalmente chegam na fortaleza (que parece ser a terra dos duendes porque todos são baixinhos, vestidos de verde e com cara de quem gosta de beber umas) e encontram, num grande salão, Oz como um grande holograma com voz de trovão mas que na verdade é um homemzinho baixinho que estava fazendo aquilo tudo com microfones, fumaça e tal (e esta parte eu gostava que fosse piada mas não é)…
Claro que essa situação foi um bocado constrangedora e o pessoal só não riu do pobre homenzinho e sua triste figura porque estava em choque com essa decepção mas, para não perder a viagem, a mocinha e seus amigos decidem pedir o que querem ao Mágico-que-acaba-de-denegrir-a-sua-própria-imagem.
O leão queria coragem para deixar de miar, o homem de lata queria um coração para dar machadadas ternurentas, o espantalho acho que queria um cérebro (um Zippo é que não era) e a mocinha queria voltar para casa (mulheres são bastante concretas e o mundo imaginário enjoou ela um bocado)…
Eles podiam pedir a vontade mas receber é que já ninguém dava garantias…
Então o Mágico-que-acaba-de-denegrir-a-sua-própria-imagem só cumpre o desejo da mocinha
(o velhinho mesmo depois de se expor ao ridiculo queria ver se tinha chances) mostrando a ela como fazer para voltar para casa
(a história chocante dos sapatos tem uma razão de ser aqui) e, antes, recusa o desejo dos homens todos
(porque as mulheres são sempre mais beneficiadas).
Qual a desculpa que ele arranja para não realizar o desejo dos marmanjos?! Eles estavam pedindo aquilo que já tinham. Por isso, para o lion man ele deu uma medalha de reconhecimento de coragem, um diploma a outro e… não me lembro mais… mas foi qualquer lembrancinha que fizesse um efeito placebo na criatura em questão.
[Acho que troquei os pedidos do homem de lata e do espantalho mas vou continuar porque isto não estraga a história para o efeito pretendido… depois quem souber comente e exclareça-nos].
Escrevi tudo isto só para dizer que muitas vezes caímos nesse erro. Desvalorizamos o que temos e pensamos que precisamos que outro nos ajude, ou que alguém faça por nós, ou que alguém reconheça isso em nós, …
Coragem, força, por exemplo, tantas vezes pensamos que não somos capazes porque não temos esses requisitos necessários mas esquecemos que se nós chegamos até aqui foi exatamente porque temos essa força e essa coragem.
Então perdemos tempo e gastamos energias procurando maneiras de conseguir ou esperando que alguém nos dê aquilo que já temos.
Talvez porque esses sentimentos/características são bastante nobres e, por isso, pensamos que está fora do alcance de simples mortais como nós…
Essa nossa insegurança nos consome, nos inibe e nos induz a erro mandando procurar coisas que estão escondidas naquele lugar que não conseguimos encontrar porque é o lugar que conhecemos menos e que é onde é mais improvável de pensarmos em ir lá procurar alguma coisa: dentro de nós!
Não perca mais tempo… viva!
Feliz Ano Novo!